É pequeno. Colorido. Possui desenhos de Bukowsky. Foi um
presente de minha amiga Patrícia. Nos 5 últimos meses, foi meu parceiro
fiel. Neles estão registrados tudo o que meus olhos viram, tudo que meu
coração sentiu, o que minhas mãos rabiscaram. Estava sempre perto
de mim, sempre.
Ontem à noite, exatamente a última em terras longínquas,
depois de me acompanhar na última taça de vinho, de registrar minha última
poesia-crônica, telefonei para minhas filhas e ele estava a me acompanhar nessa
felicidade. Estava ali, exatamente embaixo do telefone público. Eu trocava
as palavras das mãos pelas da boca.
Minhas filhas queriam saber de tudo: se meu dedo que
escreveu os nomes delas na neve ainda estava congelado, se fazia muito
frio, se eu estava bem agasalhado. Silenciosamente meu companheiro ouvia tudo e
não dizia nada. Sabia que mais cedo ou mais tarde suas páginas
registrariam alguma percepção, alguma sensação, alguma emoção. Os
créditos caíram, terminaram, saí à procura de mais um cartão telefônico.
Foi a primeira vez que o esqueci. Na volta estava lá ainda a me esperar.
Conversei ainda mais com minhas filhas, foram longos
minutos. Perguntavam quantos dias faltavam para eu chegar, morriam de saudades,
queriam brincar na neve comigo.
Fui alegre e altaneiro para o hotel. Ao amanhecer,
desesperado, procurei pelo meu caderno, me vesti subitamente e corri numa
manhã gelada de Lisboa; gente apressada à procura do metal, carros que iam e
vinham. À medida que eu corria, me passava pela cabeça os momentos que passamos
juntos, palavras, sensações, anotações, desejos e esperanças.
Finalmente avistei a praça, o telefone público. Vazio.
Não estava lá. Ainda perscrutei pelas cercanias se alguém havia visto, nada. A
tristeza tomou conta de mim.
De volta ao hotel nem mesmo a imensidão do Tejo
me reanimou.
Agora vamos nos separar pela imensidão do mar. Não sei
quem o apanhou. Nele contém minha intimidade, meus grafos e impressões. Quem o
abrir terá acesso a parte de mim, de quem sou. Mas não é isso
que me incomoda, e sim, a incerteza sobre seu futuro; se rasgarão suas
páginas; se descontinuarão suas histórias ali registradas; se
farão de suas folhas embrulho.
Alimento a esperança de que quem o achou que continue suas
páginas a preencher com poesias, crônicas e contos, para isso ele existe.
Ficará triste se destinarem outro fim. Eu conheço sua sensibilidade e
delicadas páginas amarelas.
Agora estamos separados, talvez para sempre. Uma parte de
mim que fica nesse lado do Atlântico.
Todas às vezes que eu rabiscar novas palavras, vou me
lembrar de meu velho parceiro, foi meu fiel companheiro.
Toquinho, cantor e compositor brasileiro, na canção O caderno faz um
pedido solene para quem possua o caderno não o esqueça num canto qualquer. Eu,
por uns instantes o esqueci, o suficiente para perdê-lo, para sempre.
A vida é assim, feita de perdas e ganhos.
Eu te perdi fisicamente, mas tuas páginas estão guardadas
para sempre dentro de
mim.
:'( até eu já era apegada com esse caderno, não nego os olhos estão cheios d'água, ele já fazia parte de você e quem lê o versura sabe disso, pois ele já fazia parte de nós também e sempre fará...
ResponderExcluirMas não vamos ficar tristes, talvez ele fizera isso de proposito, queria dissipar suas palavras pelo mundo, quem sabe um dia não vire um filme? Quem sabe ele não volte aos braços do pai...
Suas palavras estão em outro lugar, levando alegria e reflexão a outras pessoas, a nossos irmãos, tão próximos! :)
Te adoro Henrique!!!
Vou sentir saudade do caderno nas postagens :/
Campanha: #voltacaderno
talvez seja melhor ele não voltar, continuar sua trajetória. na vida, é preciso abrir mão de coisas para que outras possam chegar. deixa meu caderno correr mundo. vá me paz meu caderno.
Excluirsinto falta dele