– Capitão!!!! Terra à vista!!!
É linda, ainda que distante; dá para se ver o cume das
montanhas, nevoeiro por sobre sua silhueta, o poente na espinha dos
rochedos, árvores frondosas, a praia, nenhum barco ou sinal de gente.
Daqui de cima é mais agitado, joga e balança muito, mas a vista é privilegiada.
Colocar o marinheiro no caralho, como era chamado o
lugar mais alto de uma caravela, era uma punição; lugar insólito, inseguro
e absolutamente claustrofóbico, além de perigoso, ele poderia cair lá de
cima, era melhor ficar na proa, lugar para andar, se locomover e mais
seguro.
Mas como tudo na vida tem seus reveses, ficar na casa
do caralho era também um privilégio, afinal, do alto via-se tudo primeiro e
melhor. Era como desfrutar da cereja do bolo antes de todos, sentir a brisa
mais de perto, ver os pássaros, estar com eles, voar como se fosse um
deles.
Lá de cima também se via a agitação da proa, os jogos
brutais dos outros marinheiros, suas inquietações, disputas, os ratos em busca
de restos de comida, o cheiro putrefato de arinheiros sem banhar, apenas
água salgada, bocas rachadas, rostos impaludados, cheiro de carne humana.
Depois que se aprendia a jogar conforme a dança do mar, o
caralho já não era um lugar ruim. Dava para adivinhar como o barco iria jogar a
partir das ondas que se avistava ao longe. Também tinha outra vantagem: em caso
de naufrágio era o último lugar a submergir, logo, o homem que estava nele, o
último a morrer.
Mas o melhor mesmo era estar nas nuvens, sozinho,
completando-se a linha do horizonte, por onde somente os homens que enxergam à
frente são capazes de ver.
Os que estavam nesse lugar “privilegiado” sabiam que depois
de toda e qualquer tempestade sempre vinha a bonança. A punição se transformava
em privilégio, a solidão, a melhor das companhias. Sem ter com quer conversar
durante muito tempo, os que ali ficavam, ao descer, tinham muitas histórias
para contar, as melhores de todas, recheadas de visões que somente eles tinham
visto.
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