sábado, 24 de novembro de 2012

Montecuccoli: ouvero una zuppa inglese aerea

Receita para um bolo refinado e gostoso:

Junte uma casa construída na época do Renascimento, cheia de objetos de arte por todos os cômodos, uma tradição secular de cozinhar pratos a partir das várias influências culturais, uma jovem cozinheira que não fala português, um brasileiro que não fala italiano, 4 ova - solo tuorli, zucchero, marsala, panna montata, cacao, alquermes, savoiardi (4 ovos, açúcar, biscoito, licor, chocolate, cola de peixe e conhaque).

Comece se enrolando todo sem entender bem como os ingredientes são misturados. Irene, a jovem mestre cuca, pediu que eu usasse um avental e, de súbito, reclamou do ângulo que eu mexia os ovos, risos. Depois, por eu ter colocado todos os ovos com a clara e não apenas as gemas, alterou substancialmente a consistência do creme. O problema foram os micro-grumos. A coloração ficou feia. Pronto!!! Quando Irene percebeu que a coloração e a consistência não eram adequadas, decidiu fazer tudo de novo. 

- Speta Irene, Speta!!! Disse eu tentando acalmá-la e tentando entender o que havia feito de errado. Aí, apareceu Cesare, Anna e Carlo, todos falando italiano muito rapidamente, discutindo aristotelicamente o problema da coloração e da consistência e o quanto a angulação que eu havia mexido os ovos alteraria substancialmente o sabor. Refeito o procedimento, terminamos o bolo. 

Depois foi a vez do jantar. Muitos italianos juntos, 8 garrafas de vinho e o assunto como sempre: comida. Disse que havia adorado o pesto de Gênova. Resposta: – “Óbvio, o melhor manjericão tem que nascer em regiões próximas ao mar e olhar para ele”. Exatamente!!! Manjericão, bom é o que olha para o mar!!!!!!

Meu amigo Cesare, excelente cozinheiro, havia feito de antepasto (na Itália, como na França, existem 2 ou 3 entradas antes do prato principal) maravilhosos bolinhos de jerimum, impecáveis. Sabe quanto a italianada classificou? Nota 6. Isso mesmo, apenas 6 de média. 

Quanto aos vinhos, eu mesmo fui à adega e escolhi alguns franceses e italianos. Sabe o que disseram? Não eram tão bons quanto os de Carpi, região de onde todos eles eram.... Risos. E olha que escolhi um italiano Pinot Noir, minha uva preferida, sensível, delicada e absolutamente singular. Estava excelente. 

O segundo prato foi uma espécie de arroz com camarão frito com folhas de verva. Maravilhoso!!!! O problema é que não foi aprovado porque consideraram aquele prato muito próximo a uma massa, Cesare não havia dito que o segundo prato era uma massa. Risos. Essa discussão se o prato era uma massa ou não durou algo em torno de 30 minutos, com muita gesticulação de braços.

O terceiro e último prato foi um .... não quis dizer se era maravilhoso ou não, mas era carne de Cervo. Esperei primeiro eles darem opinião. Dessa vez elogiaram, sem olvidar, claro, uma espinafrada:  – “A carne era tão boa que qualquer cozinheiro acertaria fazê-la”. Risos.

Por fim, como sobremesa, o tão esperado Montecuccoli feito a quatro mãos, minhas e as da Irene. Aprovaram...... Risos.

Ficamos umas quatro horas na mesa, depois das brincadeiras sobre a aprovação ou não dos pratos, começamos a discutir política e o futuro da Itália, além da situação brasileira. 

Na Itália, assim como em outros lugares, existe uma sociabilidade da mesa; ali há um agrupamento em que as relações pessoais se estreitam, amizades são solidificadas, novas são feitas, e a pressa é definitivamente inimiga da perfeição. 

Comer é apenas um pretexto para se socializar. É uma pena que a aceleração da vida moderna nos obrigue a degustar tudo muito rapidamente em fast food.  






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