quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Adeus Nelson Mandela

Abro o computador para ler meus e-mails e me deparo com a noticia da morte do ex-presidente Nelson Mandela. Mandela dispensa apresentações, faz parte parte daquela rara estirpe de gente que ao entregar sua vida, ao invés de perdê-la, ganha-a. 

Líder sul-africano, teve a coragem de enfrentar um regime fruto da mais perversa homogenia racista: o apartheid, regime de segregação étnica que abastardava os negros africanos dos lugares públicos permitidos apenas para os brancos, de origem européia. 

Tal processo se iniciou e era decorrente da neo-colonização européia, cuja a Partilha da África, 1888, dividiu o continente negro entre as potências econômicas europeias, sob a justificativa da luta e bandeira civilizacional, o mal fadado "fardo do homem branco". 

Não bastava o processo colonizador que retirou milhões de vidas durante a época moderna do continente africano, alicerce da acumulação primitiva do capital, sustentada no trabalho escravo, inventando o racismo negro pela cor, o neo-colonialismo, nascido em fins do século XIX e que durou até as décadas de 60 e 70, (ultima nação a se libertar foi Angola, cuja guerra civil deixou sequelas incontáveis), tal ação reeditou o processo de dominação politica e econômica sobre o continente provocando danos que durante muitos anos serão sentidos.

Um desses danos foi curiosamente o processo de descolonização, quando as nações europeias ao deixaram suas antigas colônias, colocaram no poder antigas tribos rivais dando inicio as guerras civis que duram até os dias de hoje. 

No caso da África do Sul, sua colonização esteve a cargo da Inglaterra, mas contou com uma massiva presença holandesa na região. Rica em jazidas de diamante, o pais foi palco de lutas sangrentas entre Zulus, etnia autóctone, e Böhers, de origem européia. 

O resultado desse processo de disputa culminou na formatação, por exemplo, da construção de uma região contígua à Joaenesburgo cognominada de SOWETO, derivação da sigla South Westerns Townships (Bairros do sudoeste) em 1963. Atualmente uma cidade autônoma, Soweto foi o palco de resistência do Apartheid com violentos confrontos com a Policia, como o de 1976, o Massacre de Soweto.    

Nelson Mandela, um dos lideres, foi preso. Se transformou num símbolo de resistência e sua luta ecoou por vários lugares do mundo chamando a atenção sobre o que se passava naquela país. Por conta da sua luta, vários países passaram a boicotar a África do Sul e a pressão pela soltura do líder foi determinante para o fim do regime. Mandela seria o primeiro presidente negro da história da África do Sul. 

Durante a realização da Copa do Mundo de 2010, exatamente na África do Sul, Mandela voltou a surpreender o mundo ao falar de perdão. Ele afirmava que sabia das sequelas e feridas que o regime havia imposto aos irmãos negros e nem com a prisão de todos os brancos sul-africanos, ou mesmo morte, eliminaria anos de humilhação e repressão. No entanto, só havia uma forma de não esquecer, mas tentar aplacar tal passado de ódio e ressentimentos: perdão dos negros aos brancos.

Pode parecer uma tentativa de fazer tábula rasa do passado, mas não era. Mandela visava o futuro, a convivência e sobretudo o aprendizado que anos de exclusão e cadeia, no caso dele, havia lhe transmitido. Somente homens dessa estirpe seriam capazes de uma reflexão humana como essa. 

Não se tratava de não condenar ou procurar os culpados, mas de entender que a nação já não era mais de domínio exclusivo dos negros, e que brancos para o bem e para o mal também haviam construído a nação, ainda que racista, excludente e preconceituosa. 

Acontece que os brancos também refletiram sobre o passado, aprenderam com os erros e votaram em Mandela para a presidência da República, ou seja, estavam dispostos a construírem uma nova nação. Era disso que Mandela se referia. 

Ainda existem traços do passado racista? Muitos e ainda vão permanecer por muito tempo. As sequelas são sociais e econômicas, sobretudo. Porém, construir um futuro não repetindo os erros do passado é melhor que ainda permanecer nos escombros da mutilação racial. 

Mandela morre deixando um legado inquestionável: a lição de que lutar pelo bem comum é a maior bandeira que os seres humanos possam carregar. O que nos torna dignos, decentes, eminentemente humanos não é o tamanho de nossas contas bancárias, mas a possibilidade de um mundo melhor. 

Sem Mandela a África do Sul seria pior.                             

2 comentários:

  1. Mandela é o tipo de pessoa que quando se vai, o sentimento é de que perdemos alguém próximo, é que parte da fé e do amor pela humanidade vai junto. O homem partiu, mas espero que o seu exemplo de vida e coragem, continue a inspirar os que ficam a nunca se calar perante a opressão, o preconceito e a desigualdade social.

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    1. exatamente Joelma. Penso da mesma forma. assim foi a vida dela, serve de exemplo

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