Estamos assistindo pelos noticiários
televisivos a falência não só da democracia burguesa não liberal brasileira,
como também o fracasso do estado em se colocar na condição de condutor das políticas
públicas mínimas com o fito do bem estar social.
Fracasso talvez seja pleonasmo, uma vez
que, segundos os princípios marxianos, o estado em qualquer época, lugar,
sempre aspirou os anseios de quem o comanda, governa. Sob este prisma, o estado
brasileiro nunca fracassou, muito pelo contrário, sempre foi extremamente
eficiente no exercício de favorecer os grupos mandatários, e não de promoção do
bem-estar social.
Acontece que estamos assistindo a falência
até mesmo dos princípios reguladores do estado em benefício das elites, vide que
a corrupção macula, mancha, destorce, inviabiliza a ideia de que todos estamos
sob o involucro de um fenômeno, um princípio régio para além do bem e do mal e
sem o qual nenhuma sociedade subsiste. O Brasil, não como extensão de Ocidente,
mas sua negação, é um fracasso. As instituições democráticas brasileiras em sua
quase totalidade são grassadas pela antiética, pelo servilismo, apadrinhamento,
ausência de transparência, cheias de pessoalidades, podres. Quem achar que os
brasileiros confiam em suas instituições e/ou se sentem representados,
protegidos, estão redondamente enganados.
Os brasileiros existem, vivem, apesar das instituições
e não coparticipes delas. Nem mesmo os escândalos de corrupção são capazes de
mudar o panorama eleitoral porque via de regra é consenso a ideia de que roubar
é mais que natural, é endógeno da coisa pública, da condição da política. Prevalece
a noção de que mesmo os honestos, uma vez inseridos na lógica da política, irão
se corromper também.
Quem é o responsável por esse quadro? A história,
não enquanto disciplina, conhecimento, e sim, enquanto processo, estrutura. Os
brasileiros desde os períodos de conquista europeia foram expectadores da forma
como os aparatos burocráticos do estado foram sendo apropriados para as
benesses de um grupo sem o menor respeito e concessão aos demais segmentos sociais.
Os brasileiros aprenderam a tirar proveito de tudo porque além de uma vingança contra
os usurpadores, era a única chance de conseguirem algo para sobrevivência,
porque pelas vias legais era muito difícil, quase impossível.
Isso virou uma questão cultural perpassada
de geração a geração. Impunidade, esnobismo, pilhéria com o que é público virou
norma, uma espécie de câncer que atingiu a quase todos levando a uma sensação
de que nada poderia ser feito para evitar ou mudar esse quadro. Resultado:
temos gerações inteiras “educadas” sob a égide da antiética. Ser antiético
neste país é um valor cultuado, exemplo de esperteza, ou seja, trabalhar, ser
sério, são sinônimos de ser otário, vacilão, perdedor, afinal, roubar é mais
fácil e livre de punição.
Como mudar este quadro? Acabando com nepotismo,
com favorecimentos, estabelecendo concurso público e transparente em todos os
cargos, instituindo a meritocracia, e não a indicação, universalizando o ensino
em todos os níveis, controlando o judiciário, protestando nas ruas e nas redes
sociais, denunciando policiais, juízes, advogados corruptos, pressionando o
estado, criticando a mídia quando faz vista grossa, lutando pela ética, pois
que esta deveria estar acima de tipologias e tipificações deste ou daquela forma
de governo.
Ou a sociedade brasileira vai às ruas, muda
o quadro eleitoral votando em novos deputados, senadores, presidentes, governadores,
prefeitos, vereadores de fato honestos, ou vamos assistir a enxurrada do dinheiro
público, o erário, escorrer vala a baixo levando consigo esperança, desejo de
mudança, acometendo vítimas de assassinatos pela pura descrença de que a barbárie,
a banalização da vida são os motes da existência, quando no fundo sabemos que
não é.
Não adianta apontar apenas os políticos profissionais
acusando-os de corrupção, ela está em todos os lugares; professores que não ministram
aulas em escolas públicas, mas não faltam nas particulares; moradores que
roubam água e luz; guardas de transito que aceitam propinas; policiais
associados aos criminosos; juízes corruptos; blogueiros chantagistas;
governadores que fazem caixa 2; prefeitos que desviam verba da merenda escolar;
funcionários públicos que falsificam documentações; pastores que roubam seus
fiéis; empresários que não registram carteiras de trabalho de seus funcionários;
contadores que se especializam em burlar a receita federal; população pobre que
recebe benefícios similares conflitantes quando a lei não permite; pescadores
que fraudam associações; sindicalistas que alteram dados de seus sindicatos;
assessores parlamentares que não trabalham e se utilizam da máquina estatal
para benefício próprio e dos familiares; jornalistas que vendem matérias;
alunos que colam ou plagiam artigos.
A lista é quase infinda.
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